sexta-feira, 6 de março de 2009

A festa do Senhor Oscar

A 81ª edição do Oscar, maior premiação cinematográfica do mundo ocorreu no mesmo dia de outra grande festa no Brasil, o domingo de Carnaval. "Quem quer ser um milionário?", que concorreu em 10 categorias, levou para casa oito. O prêmio de melhor atriz foi para Kate Winslet por "O leitor", que já foi indicada outras cinco vezes. A surpresa da noite foi para o prêmio de melhor ator para Sean Penn por sua atuação em "Milk" e fez uma declaração polêmica contra os votos da Califórnia contra o casamento entre homossexuais.
Para falar sobre esse grande evento da indústria cinematográfica, entrevistamos o cineasta Pedro Jorge de Castro. Nascido no Ceará, Pedro Jorge escolheu a capital federal para residir. Foi professor da Universidade de Brasilia e é considerado o primeiro brasiliense a ganhar um prêmio do Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro, por sua direção no curta documentário "Brinquedos Populares do Nordeste".

O que o senhor acha do Oscar? Justo ou só serve para ajudar na divulgação dos filmes?
R: É evidente que a premiação tem um cunho político e econômico acima de qualquer coisa e está apoiada, no que eles dizem, em mostrar a qualidade da produção cinematográfica. O que é mais interessante e louvável no Oscar, é a premiação das categorias profissionais. O Oscar é uma celebração da qualidade técnica dos filmes. Por exemplo, uma atriz coadjuvante pode ser premiada pelo seu trabalho mesmo fazendo parte de um filme sem grandes expressões técnicas. Apoiado nessa idéia está um trabalho de marketing assustadoramente poderoso, o que faz um filme de orçamento médio conseguir todo o dinheiro gasto, dependendo das indicações.

Esse ano o Brasil ficou de fora da premiação. Se tivessem escolhido um outro filme se não o “Última Parada 174”, o senhor acha que seria melhor aceito e pelo menos concorrido ao Oscar?

R: Os americanos dizem que o problema dos filmes brasileiros é que são brasileiros demais. Mas quer coisa mais americana que os filmes americanos? Morte, sangue, explosões e atentados. O interessante é cada país se expressar por si só. Eu acho que o filme que foi encaminhado para lá não tem tantas qualidades cinematográficas. Há hoje na cinematografia mundial uma habilidade muito grande em se contar história, e acredito que a narrativa factual nem sempre é a que merece estar na tela.

Qual a importância de premiações como o Oscar?

R: Eu já criei um festival aqui no Brasil. O Festival de Fortaleza que hoje é conhecido como Cine Ceará. Fui muito questionado, pois achavam que já tinha muitos festivais, e não é verdade. O que acontece é que tem poucos filmes brasileiros e pouca platéia. O consumo de cinema assim como qualquer outro consumo depende de salário, e no Brasil falta dinheiro até para as pessoas comerem. Quando eu criei o festival, eu queria aumentar o número de frequentadores de cinema e eu acho que este deve ser o objetivo de qualquer premiação cinematográfica.

A rede Globo de televisão decidiu não exibir o Oscar esse ano, dando preferência ao Carnaval carioca, pois dá mais Ibope. Qual a sua opinião a respeito disso?

R: Não faz mal. Eu acho que o grande espetáculo da Brodway no hemisfério sul é o Carnaval do Rio de Janeiro. Eu acho bom. Continua sendo uma manifestação popular, ao contrário do que muitos falam.

É comum na cerimônia do Oscar, algum premiado dar uma declaração polêmica nos agradecimentos, expressando sua opinião, muitas vezes política. O senhor acha válido esse tipo de manifestação?

R: Sim. Eles são artistas e como tal tem seus posicionamentos intelectuais. Eu acho que eles tem a obrigação de colocar sua opinião para uma platéia. Eu já havia falado isso em Gramado, quando disse que os artistas, diretores, roteiristas não fazem parte de um mundo a parte, e que precisamos lutar para que o cinema brasileiro cresça e caminhe com as próprias pernas. Temos que lutar por melhores condições e maiores investimentos, pois é uma profissão que gera muitos empregos.

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